Uma competição internacional de matemática que reuniu 550 estudantes de graduação de 34 países, divididos em 96 equipes e realizada 100% em ambiente virtual. Assim foi a edição deste ano da International Mathematics Competition for University Students (IMC), que contou com a participação de três estudantes do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos.
“Gostaria que essa conquista encorajasse mais pessoas a participarem da IMC e de outras competições do tipo, como a Olimpíada Brasileira de Matemática, por exemplo. Elas propõem problemas sobre assuntos que estudamos no início da graduação, mas de uma maneira diferente, inédita, de encaixar as coisas, o que incentiva nossa criatividade e ao mesmo tempo é um desafio”, explica Victor Hugo de Souza, que conquistou menção honrosa na disputa individual por ter alcançado a 405ª posição no ranking.
Quando Victor se mudou para São Carlos, vindo de Santos, no litoral de São Paulo, estava matriculado no curso de Engenharia de Computação. Mas o desejo por aprender mais matemática o levou a participar de um programa de iniciação científica criado pelo professor Hildebrando Munhoz.
A dinâmica do programa é bastante interessante: além de mesclar, em um mesmo ambiente, alunos mais adiantados, alguns que já estão na pós-graduação, com veteranos na iniciação científica e alunos iniciantes, os estudantes são estimulados a apresentar, alternadamente, seminários em inglês abordando tópicos em matemática profunda. Há também seminários especiais para a resolução de problemas. Essa dinâmica possibilita que os alunos mais experientes sirvam de modelo para os mais novos e que todos juntos aprendam lições fundamentais. “Ao participar dos seminários promovidos pelo programa, confirmei minha afinidade por matemática e decidi transferir de curso: agora faço Bacharelado em Matemática no ICMC. Meu sonho é ser pesquisador na área e poder contribuir em projetos de educação e divulgação”, acrescenta o estudante.
Outro aluno do Bacharelado em Matemática do ICMC que foi premiado na competição internacional foi Luan Arjuna, que conquistou a medalha de bronze por ter alcançado a 277ª colocação: “Essa medalha acendeu novamente a minha paixão pelas olimpíadas. Pretendo me dedicar bastante para conseguir uma nova medalha no ano que vem”.
Ele revela que sua identificação com a matemática começou cedo. “Eu tinha uns 8 anos de idade quando minha mãe me falou sobre a Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP). Ela disse que se eu ganhasse uma medalha de ouro nessa olimpíada, eu iria aparecer na televisão e receber a medalha do presidente. E isso foi suficiente para me deixar muito empolgado para estudar”, conta.
Logo em sua primeira participação na OBMEP, Luan recebeu menção honrosa e, no ano seguinte, conquistou a medalha de ouro e o convite para conhecer a então presidente Dilma Rousseff. Depois disso, o estudante começou a se dedicar cada vez mais à matemática. “Quando você estuda muito, começa a desenvolver intimidade com ela”, destaca.
Luan estudou praticamente sua vida toda em escolas públicas de seu município, Andaraí, cidade baiana com cerca de 15 mil habitantes. A trajetória de Victor é similar, como ele revela: “Para mim e outros colegas de baixa renda, as olimpíadas representam uma forma de inclusão social, pois permitiram ganhar bolsas para estudar em escolas com melhor preparação para o vestibular e, com isso, ter a perspectiva de ingressar em uma universidade pública de excelência”.
Victor conta que, entre a metade e o fim do ensino fundamental, fez uma prova de bolsas para uma escola que era considerada muito boa e tinha muitas aprovações em vestibulares. “Ganhei bolsa integral, e descobri que inscreviam os alunos em olimpíadas científicas. Aquilo era novo para mim, nunca havia ouvido falar nessas competições, mas pude encontrar materiais e dicas de estudo buscando grupos no Facebook sobre o assunto e fóruns na internet”, conta. Além de ter ajudado Victor a desenvolver e melhorar seu hábito de estudo, participar das olimpíadas científicas permitiu ao garoto conhecer pessoas de vários cantos do Brasil com interesses em comum.
O terceiro aluno do ICMC que participou da competição internacional foi Hazael Jumonji que ficou na 436ª colocação. Já a equipe composta por Hazel, Victor e Luan ficou na 78ª colocação, tendo sido prejudicada por possuir um participante a menos do mínimo exigido – os times precisam ter ao menos quatro pessoas porque a pontuação das equipes é obtida a partir da nota média dos quatro integrantes. No caso do time do ICMC, a média resultou da soma da pontuação dos três alunos dividida por quatro, o que fez a nota diminuir. “Se as olimpíadas forem mais difundidas, vários alunos do ICMC, que são muito bons, poderão trazer excelentes resultados representando nossa comunidade acadêmica”, acrescenta Victor.
Distância que aproxima – A International Mathematics Competition for University Students acontece todos os anos na Bulgária, mas por conta da pandemia da covid-19, este ano a competição foi realizada entre os dias 25 e 30 de julho no formato a distância. “Eu já desejava participar dessa competição há um tempo, mas o que me motivou a fazer a prova este ano foi o fato de ser aplicada online, o que dispensou a necessidade de viajar para a Bulgária. Isso permitiu que mais brasileiros participassem, o que fez com que obtivéssemos recorde em número de premiações”, comemora Victor.
Para garantir a transparência da competição, os participantes foram fiscalizados por meio de videoconferências gravadas pelos líderes de cada time, com microfones e câmeras abertos. Isso porque, apesar de serem divididos em times, os participantes responderam individualmente a oito problemas matemáticos em uma prova que foi impressa e resolvida na casa de cada um. Cada questão valia dez pontos, com a prova totalizando uma pontuação máxima de 80. Quem obteve nota igual ou superior a 30 pontos recebeu a medalha de ouro. Entre 29 de 21 pontos recebeu prata e entre 20 e 15 bronze.
Além do time do ICMC, a USP foi representada na competição por mais quatro alunos do Instituto de Matemática e Estatística (IME): Eduardo Sodré, André Hisatsuga, Lucas Harada e João Pedro Sedeu Godói. No quadro geral por equipes, os estudantes do IME conquistaram a 32ª colocação. Na disputa individual, Eduardo Sodré e André Hisatsuga ficaram com a medalha de prata pela 143ª e 151ª colocação, respectivamente. Já Lucas ficou na 209ª posição, enquanto João Pedro na 277ª, ambos premiados com a medalha de bronze.
Os competidores russos conseguiram boa parte das primeiras colocações, seguidos dos estudantes israelenses, resultado que não é novidade em torneios da área. “Os dois países têm uma tradição muito forte em matemática, pois lá é bem mais popular que aqui”, conclui Marcelo Luiz Gonçalves, que liderou a equipe do ICMC.
Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Com informações do Jornal da USP
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