rose Notícias
Data da publicação: 02/12/2016

Esta entrevista foi originalmente publicada na revista ICMCotidi@no nº 99, edição de Outubro/Novembro/Dezembro de 2012

 

 

 Uma história de amor que une trabalho, família e companheirismo há 38 anos. Esse é o exemplo que Cesar e Rose Casali passam. O casal participou do desenvolvimento e consolidação do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos, praticamente desde sua fundação. Cesar Carlos Casali foi assistente financeiro de 1976 a 1996 e Rosemari foi bibliotecária de 1975 até 2009. Durante esse tempo, os Casali criaram seus filhos, viram os netos nascerem e contribuíram para a evolução das áreas em que atuaram profissionalmente.

O casal recebeu a equipe do ICMCotidi@no em sua residência. Sentados um ao lado do outro no sofá, desmancharam uma história repleta de realizações e alegrias. A casa apenas comprova essa relação, cheia de fotografias e mimos representando uma família que se formou junto com o ICMC. "Estamos reformando a casa, aumentando o quintal, pois há mais netos chegando", brincou Cesar, mostrando as obras. Acompanhe a entrevista na íntegra.

 

Rose, você começou a trabalhar como bibliotecária em uma época em que todo o conhecimento era restrito ao papel. Como foi o processo de digitalização do acervo da biblioteca?

Rose - No começo foi meio complicado, porque era tudo manual e era um volume de serviço grande. Mas não foi traumático, não. Foi bem melhor porque as coisas ficaram muito mais fáceis. Antes, tínhamos que fazer fichinha e empréstimo à mão, todos os controles eram manuais e quando passamos para o sistema automatizado, facilitou muito. A parte pior foi inserir os dados, mas foi bem melhor para nós.

 

E como foi a aceitação das pessoas na época com essa mudança?

Rose - Todo mundo aceitou numa boa. Algumas pessoas que trabalhavam conosco tiveram uma certa resistência, um preconceito, pensando que não daria certo. Nós tentamos, num primeiro momento, fazer a parte de cadastro do usuário, e para empréstimo fazer uma automatização local. Porém acabou não dando certo, pois não funcionava para as outras bibliotecas. Mas antes do processo digital ser implantado de uma forma geral na USP, nós já tínhamos tentado inserir os usuários do nosso Instituto. Daí o sistema de bibliotecas da USP implantou a automatização para todas as unidades ao mesmo tempo. Nesse período nós fomos treinadas, mas já tínhamos uma ideia de como era aquele processo.

 

De que forma a biblioteca se adaptou a todo o processo de crescimento do ICMC?

Rose - Tinha o curso de matemática, mas a computação já estava mais ou menos presente. Quando a computação come- çou a tomar uma proporção maior, já existiam professores que trabalhavam e estudavam essa área. Então, para a biblioteca não teve muito problema. Só o acervo que precisou ter novos livros voltados para a computação. Nessa época nosso acervo cresceu rapidamente, porque a matemática não é uma coisa tão dinâmica, já a computação foi crescendo muito com o tempo. Fisicamente, nosso espaço teve que crescer também com essa evolução. Antes, nós trabalhávamos em uma sala pequena. A parte administrativa era toda junta, o balcão era encostado na sala da administração, então era um espaço bem pequeno. Até que foi construído um novo prédio e ficou bem mais tranquilo. Na época tínhamos poucos funcionários e tivemos que contratar mais, então a biblioteca teve que aumentar em todos os sentidos.

 

A biblioteca do ICMC possui uma rica coleção de livros raros e antigos. Como era feito o cuidado dessas obras?

Rose - As obras raras não circulavam e ficavam em armários fechados. Então, o nosso trabalho era na parte de limpeza e conservação, que deveria ser algo especial. E quando alguém precisava fazer uma pesquisa, ou se interessava por alguma coisa, uma das bibliotecárias localizava a obra e a pessoa tinha que consultar ali mesmo. Na verdade, todas nós tínhamos um carinho muito especial por essas obras, pois, além de importantes, não tem muitos exemplares disponíveis. Então eu as considerava muito especiais por causa do valor histórico e mesmo pela importância científica que elas têm.

 

Nessa época, como era feito o processo de pesquisa bibliográfica?

Rose - Era tudo manual. Se o usuário queria um livro, o sistema, que hoje é automatizado, era feito de diversos fichários de aço, com fichinhas que a gente datilografava. Daí nós íamos lá e procurávamos de acordo com as características da obra e com o número de classificação. Então, como também o acervo sempre foi organizado de acordo com a classificação, não era tão complicado de achar. Um serviço muito comum que eu fazia era o levantamento bibliográfico de artigos, geralmente para os alunos de pós e professores, que também era feito manualmente. De acordo com o volume de informação que tinha sobre o assunto, nós fazíamos a busca manual.

 

E você gostava do trabalho que fazia?

Rose - Era muito gostoso, muito bom. Hoje em dia você entra na internet e está tudo pronto, tudo bem mais fácil. Eu gostava do meu trabalho naquela época. Como você analisa essa nova forma de leitura, com tablets, livros digitais e toda a tecnologia dos dias de hoje? Rose - Eu acho que a tecnologia torna a leitura mais interessante e acessível, porém, ao mesmo tempo, eu particularmente gosto mais de pegar o papel na mão, sentir o livro e ler. Mas eu acho essa nova forma de leitura fantástica, porque você consegue mais rapidamente ter a informação. Quando não existia a parte digital, imagina quantos prédios e salas deveriam ter para armazenar um acervo de dez mil livros, por exemplo? Ia chegar uma hora que não tinha mais condições. É por isso que antigamente havia muito descarte também. No Instituto não fazíamos muito descarte, mas existiam muitas bibliotecas que descartavam livros desatualizados e coisas do gênero. Então, com o digital, o livro ocupa um espaço, mas é bem menor que o físico. Eu acho fantástico, ainda mais pra quem viveu as duas experiências, o antes e o depois.

 

O que você gosta de ler?

Rose - Eu gosto de romance. Não tenho um autor preferido, mas os romances sempre me encantam.

 

Qual é a sua principal lembrança do ICMC?

Rose - Quando nós começamos no Instituto, era tudo muito pequeno, então a convivência e a amizade eram muito mais intensas com todo mundo. Todos os professores e funcionários, na época do Natal, faziam festinhas de Natal, inclusive com as famílias. Fazíamos distribuição de presentes para os filhos, era muito gostoso, eram festas muito boas. Todo mundo colaborava de alguma forma. Mas isso só era possível porque o instituto era muito pequeno. Então nós tínhamos uma convivência, inclusive, com as famílias, que hoje já não tem mais. O ICMC foi meu único trabalho, tive todos os meus filhos, inclusive eu comecei a trabalhar grávida da minha primeira filha. Então, o instituto é um lugar que me traz lembranças muito boas.

 

Hoje a USP possui um complexo sistema para gestão de finanças, informatizado e integrado. César, na época em que você trabalhou no Instituto, como era feito o gerenciamento financeiro?

Cesar - Era terrível, uma loucura, tudo manual, com fichas. Era feito o empenho (documento utilizado em compras e contratações) por sete dias, tudo tinha que ser enviado a São Paulo para ser autorizado. Só então recebíamos de volta essa autorização e encaminhávamos ao fornecedor. Era um processo bem mais burocrático do que hoje. Para fazer uma compra, por exemplo, era uma maratona.

 

Como foi feito o processo de adaptação às novas tecnologias no setor financeiro?

Cesar - Inicialmente, foi criado o SAF (Sistema de Administração Financeira), que era feito através da Telesp. Era um sistema que caía toda hora, era problemático e muito complicado. Eu vi o primeiro computador que chegou em São Carlos, o PDP11, que foi comprado logo no início da computação pelo Instituto de Matemática. Principalmente, nessa época, nós tivemos muitos problemas na área financeira, porque esse computador só trabalhava com cartões. E a única empresa que tinha era a IBM, que alugava as digitadoras de cartões. Eu cheguei a fazer um curso para aprender a lidar com esses cartões, que eram programados para executar alguma atividade na máquina. Era bem complicado.

 

No sistema atual, os funcionários têm acesso online a todos os holerites e informações contratuais. Antes, como era feita uma folha de pagamento?

Cesar - Na época era feito em São Paulo, só que tínhamos que ir todos os finais de mês até lá para empenhar a folha. Então todos os meses saíam todos os contadores aqui de São Carlos, e íamos até São Paulo empenhar a folha de pagamento. Como não existia tesoureiro, nós fazíamos também a função dele. No começo do mês íamos a São Paulo buscar o cheque da folha de pagamento para depositarmos aqui em São Carlos. Era bastante perigoso. Uma vez, inclusive, um tesoureiro da Escola de Engenharia foi à São Paulo trazer alguns cheques, alguns da Matemática. Quando ele voltou ao carro, tinham roubado o veículo e junto com ele os cheques. Fomos a São Paulo para ver o que tínhamos que fazer, pois o cheque não podia ser anulado. O adiantamento para fazer aquele gasto também não podia ser utilizado. Fomos até Campinas, passamos no Detran e tinham encontrado o carro. A pasta com os cheques estava intacta, porém o carro estava depenado.

 

Como vocês lidavam com a mudança constante da moeda?

Cesar - Era complicado porque a gente tinha de fazer toda a conversão. Tudo tinha que fazer conversão, inclusive nessa parte de balanço, tínhamos que ajustar toda a parte de patrimônio, tudo tinha que ser reformulado. Depois do Plano Real tivemos que reajustar tudo. E os valores tinham que bater. Nós recebíamos toda a orientação de São Paulo sobre como esse processo deveria ser feito, mas de qualquer maneira era difícil. Por exemplo, se a Matemática tinha duas mil peças no patrimônio, tínhamos que fazer a conversão de tudo. E naquela época o instituto tinha poucos funcionários, tínhamos um prazo igual todos os outros para cumprir com um pessoal reduzido.

 

Qual é sua principal lembrança do ICMC?

Cesar - O Instituto era um ambiente pequeno e nós tínhamos vontade de trabalhar. O clima era muito bom, eu tinha muitos amigos lá dentro. Hoje as pessoas não veem a hora de chegar seis horas da tarde para irem embora pra casa logo... naquela época não era assim. Como era a vida de casado dentro do ambiente de trabalho? Rose - Era muito bom. Inclusive casais que são nossos amigos nos usam como referência, pois nós sempre fomos muito unidos. Dos funcionários do Instituto na época, nós éramos o único casal. Mas a gente não ficava junto no local de trabalho. Só chegávamos juntos e íamos embora juntos. Nem um cafezinho a gente tomava durante o expediente. Cada um ia com a sua turma. Sempre tivemos muita liberdade. O nosso casamento nunca interferiu de forma ruim no ambiente de trabalho. Quando acontecia alguma coisa nós também não tomávamos muito partido. Desentendimentos sempre acontecem, mas a gente evitava ficar falando. O Instituto é muito presente em nossa vida. Criamos nossos filhos lá, vimos nossa família ser construída dentro daquele lugar. Temos muitas lembranças boas.

 

Texto: Fernanda Vilela – Assessoria de Comunicação ICMC/USP

CONECTE-SE COM A GENTE
 

© 2024 Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação