
Eles vêm de todas as partes do Brasil e também do exterior, atraídos pela excelência em ensino, pesquisa e extensão e também pela qualidade de vida de São Carlos
A escolha por computação não aconteceu por acaso para Ana. O pai da estudante sempre trabalhou com tecnologia da informação, apesar de não ser formado na área. Em 2014, perguntou à filha: “Por que você não começa a aprender um pouco de programação?” A frase despertou a garota para um novo universo, que a encantou. “Não me aprofundei muito, mas o pouco que vi achei muito legal. Ele me orientou, forneceu materiais e tirou minhas dúvidas. Vi que era algo em que valia a pena mergulhar, até porque gosto de matemática e da área de exatas”.
Da engenharia à matemática – No caso de Thales Sarinho, 20 anos, seriam necessários 27 dias de caminhada, andando na mesma velocidade que Ana Carolina, para chegar à sua terra natal, em Recife, Pernambuco, onde seus pais moram. Os 2,7 mil quilômetros que separam o estudante de sua família também não o intimidaram na busca pelo sonho de estudar na melhor universidade brasileira na área de matemática. No entanto, Thales descartou estudar em São Paulo por causa da poluição: “Tenho asma, já fui a São Paulo várias vezes e sempre é um sufoco. Não tenho condições de morar lá.”
Ele sempre teve paixão por ensinar. No ensino médio, pegava o quadro branco que tinha ganhado da mãe e, com o pincel atômico em mãos, explicava conteúdos de química, física e matemática para os colegas. Quando ingressou no curso de Engenharia Mecânica em uma faculdade particular de Recife, há dois anos, não foi diferente. “Tinha gente que não entendia cálculo e geometria e eu estava amando aquelas disciplinas. Então, pegávamos uma sala que não tinha aula à tarde e a galera da minha turma ficava ouvindo as minhas explicações. Sempre havia um grupo de 10 a 15 alunos. Eu adorei essa experiência”, conta Thales.
O cálculo e a geometria também foram responsáveis por fazer Thales enxergar sua paixão pela matemática. “Quando você vai fazer engenharia, não é apresentado a uma matemática rigorosa. Você conhece uma matemática mais superficial, para que aplique na sua área. Nesse caso, basta saber que existe uma fórmula matemática para usar naqueles casos”, diz o estudante. “No entanto, eu queria saber por que aquela fórmula existia, como ela tinha sido construída”, acrescenta. Ele até tentou ler livros de uma matemática mais avançada para ver se isso o satisfazia, mas não adiantou. Depois de um ano e meio de engenharia, Thales decidiu desistir.
“Meus pais ficaram muito preocupados. Eu estava saindo da engenharia, que é um curso muito bem aceito, que tem muitas vagas de emprego, para ser professor de matemática!” Porém, eles não tardaram a compreender a decisão do filho. Afinal de contas, os dois haviam passado por experiências similares. O pai de Thales chegou a cursar física, mas quando notou que não haveria emprego em Recife na área a não ser para dar aulas, transferiu para direito. Já a mãe do garoto cursava letras e também não gostava de dar aulas, por isso, tal como o pai, seguiu o caminho do direito. “Eles disseram que era normal que eu mudasse de ideia. Só imaginaram que eu ia ganhar pouco e não seria valorizado, tal como minha avó materna, que era professora de português”.
O plano de Thales é ser professor universitário e, para alcançar seus objetivos, o estudante já sabe que precisará fazer mestrado, doutorado e pós-doutorado. “Vi que a professora Maria do Carmo, do ICMC, fez pós-doutorado na Polônia. Seria o máximo fazer algo assim lá na Europa, na Nova Zelândia, no Canadá...”
Alejandro e Angelo durante a recepção aos calouros da pós-graduação