“Resolver problemas de matemática com desafio é uma das coisas mais divertidas que se tem para fazer”, diz Arjuna Fraga Ramires, que coordena o Núcleo de Estudos de Matemática Olímpica (NEMO), um dos grupos de cultura e extensão universitária do Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC), da USP em São Carlos.
O NEMO foi oficializado neste ano com a intenção de valorizar ideias brilhantes e divertidas para resolver problemas de competições matemáticas nacionais e internacionais. E se você é da graduação de qualquer curso da USP São Carlos e quer despertar seu interesse ou gosta de resolver problemas, você é bem-vindo!
Os participantes dizem que o objetivo não é esse, mas que tal voltar da primeira competição internacional com todos os sete participantes medalhistas? Foi exatamente o que aconteceu na IMC (International Mathematics Competition), a mais prestigiada olimpíada internacional universitária de matemática, que ocorreu em agosto último, na Bulgária, de forma presencial e on-line. Os representantes da USP São Carlos fizeram as provas remotamente e foram agraciados com uma medalha de ouro, duas de prata e quatro de bronze!
A de ouro ficou exatamente com quem começou cedo essa “diversão”. Arjuna conta que seu interesse por matemática olímpica iniciou no ensino fundamental, quando a mãe disse que, com uma medalha de ouro na OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), apareceria na televisão e receberia a medalha do presidente. “Na minha primeira participação fui premiado com uma menção honrosa. Fiquei contente por ter ganhado algo logo de primeira, mas, no dia da premiação, descobri que na minha região havia muitas outras menções, mas só uma medalha de ouro. Me recordo de pensar que ninguém ali iria se lembrar de mim. Isso me motivou a me dedicar completamente à matemática olímpica no ano seguinte. Na minha segunda participação, eu consegui uma medalha de ouro. Foi uma das melhores coisas que poderiam ter me acontecido. Além de ter uma viagem paga para o Rio de Janeiro para receber a medalha da presidente e ter aparecido na televisão (realizando meu sonho de infância) no ano seguinte, recebi uma bolsa para participar do Programa de Iniciação Científica Jr., onde tive aulas de matemática olímpica junto com os demais medalhistas da minha região. Estar inserido num coletivo de pessoas que compartilhavam o amor pela matemática e com o qual eu podia discutir problemas e teorias foi imprescindível para o meu amadurecimento matemático”, observou.
Foi o que motivou Arjuna a seguir na universidade com os desafios e mais do que isso, tentar incentivar outros a seguirem nesse mesmo propósito. “Uma das primeiras coisas que fiz foi buscar um grupo de estudos para matemática olímpica. Quando descobri que não existia grupo algum, decidi criar um. Desde o meu primeiro ano, o NEMO já tinha esse nome, mas faltavam membros. Era difícil organizar reuniões, divulgar o grupo e manter os participantes engajados. No entanto, algumas pessoas interessadas acabaram ouvindo falar da iniciativa e decidiram me ajudar a colocar o projeto para frente”.
Os também medalhistas Victor Hugo Daniel (que atualmente faz pós-graduação nos Estados Unidos) Sofia Lacerda e Gabriel Franceschi Libardi embarcaram no projeto e fizeram acontecer. “No meu terceiro ano, nós quatro nos reuníamos quase toda semana para discutir problemas. Este ano, finalmente conseguimos nos tornar um grupo de extensão oficial do ICMC, o que nos proporcionou um alcance maior e uma infraestrutura muito mais adequada para nossas atividades”.
Segundo Arjuna, o crescimento do NEMO foi decisivo nas vitórias de todos na competição. “Esse resultado é motivo de muito orgulho para mim, pois indica que o nosso projeto realmente está agregando aos membros, tornando-os matemáticos melhores e desenvolvendo sua habilidade de resolução de problemas. Espero ver o grupo crescer e produzir cada vez mais resultados espetaculares como esse! ”, comemora.
Para Gabriel, o fato dos estudos serem em grupo foi determinante nos resultados. “Eu já estudei sozinho para olimpíadas e sei como é “travar” em um problema e gastar horas sem fim em raciocínios que não levam a nada. Mas quando estou em alguma reunião do NEMO, nós conseguimos resolver até os problemas mais difíceis, porque de certa forma, o nosso conhecimento se complementa. Então, para todos aqueles que são interessados, fica aí o convite: venha participar das nossas reuniões, estamos ansiosos para que mais pessoas se integrem a nossa equipe”.
O NEMO tem como docente responsável o professor Ali Tahzibi que ressaltou que as atividades fornecem uma impulsão não trivial na qualidade de formação dos alunos de graduação. “O grupo preza pelas ideias brilhantes e divertidas para resolver problemas de competições matemáticas nacionais e internacionais. Problemas que raramente encontramos nas avaliações dos cursos de bacharelado, porém as belas ideias (em geral simples e não triviais) para resolve- las não-raramente são pedaços de quebra-cabeça que faltam para demonstrar um teorema ou aparecem de uma forma impactante nas aplicações da matemática (como teoria de reconfigurações em computação inspirada por jogos de Martin Gardner ou algoritmo de busca de google e álgebra linear). Justamente por possuir mistura de diversão e profundidade matemática, o NEMO inclui e convida alunos interessados de todos os cursos do campus para mergulhar juntos nessa ideia. Sonho com uma vida longa para este grupo e sua renovação contínua”, conclui Ali.
Ainda sem saber se dará conta dessa missão junto ao grupo e do desafio da pós-graduação no exterior, Victor Hugo é um grande defensor da perenidade do NEMO. “ Sonhamos com esse grupo sempre seguindo em frente, o importante é que ele continue sempre cumprindo seu papel e que as pessoas mantem o nosso projeto com a mesma paixão que o criamos”.
O grupo disponibiliza listas de desafios e também se reúne aos sábados das 14h00 às 16h00. Saiba mais acessando a página dos grupos de extensão do ICMC, fale com os integrantes pelo instagram @nemo ou envie um email para Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
Texto: Raquel Vieira
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