Ele chegou ao campus da USP, em São Carlos, em 1964, depois de aceitar o convite do matemático italiano Achille Bassi para dar aulas na Universidade. Apenas sete anos depois, Antonio Fernandes Izé se uniu a outros matemáticos pioneiros e ajudou a fundar, no interior do Estado de São Paulo, uma instituição que se tornaria referência na área: o Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC).
Figurando entre os pesquisadores brasileiros que desbravaram o estudo das equações diferenciais ordinárias, Izé fez parte de um seleto grupo de mestrandos e doutorandos orientados pelo professor Nelson Onuchic. Foram eles que defenderam as primeiras dissertações e teses da área no Brasil. Em novembro de 1965, Izé conquistou o primeiro grau de mestre em ciências fornecido pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), onde atuou como professor de 1961 a 1963, logo depois de concluir o Bacharelado em Matemática na antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP, em São Paulo.
“Passei (no vestibular) e fiz a faculdade à noite. Trabalhava na Light até 5, 6 horas da tarde. Depois, às 7 (da noite), eu ia para a faculdade que, felizmente, era perto, porque a Light ficava no centro e a rua Maria Antônia não era muito longe. Eu ficava na USP até 11 horas da noite, depois voltava no dia seguinte. Era dureza. Terminei o curso nos quatro anos, sem problema”, revelou o professor em entrevista concedida em 2000 à historiadora Leila Bussab.
O esforço do jovem, que antes de ingressar na USP havia concluído o curso técnico em mecânica na Escola Técnica Federal de São Paulo (atual Instituto Federal de São Paulo), valeu a pena. “Depois que eu fiz o curso técnico, comecei a trabalhar. Trabalhei em algumas indústrias. Finalmente, consegui emprego na Light”.
No final da graduação em matemática, um de seus professores, Benedito Castrucci, indicou Izé para trabalhar no ITA, que estava precisando de docentes. Começava ali a carreira acadêmica do pesquisador que, depois de completar o doutorado na USP, fez pós-doutorado na Brown University, nos Estados Unidos, de 1969 a 1970.
Incentivo – Nascido em Franca, dia 1º de janeiro de 1933, Izé chegou a Ribeirão Preto com apenas um ano de idade. Inicialmente, morou com a família na cidade até os nove anos e, depois, mudou-se para São Paulo: “Meu pai achava que filho não precisava estudar. Ele era italiano, tinha completado o Liceu na Itália. O Liceu era um curso bastante avançado. Ele era uma pessoa culta, mas achava que era bobagem estudar e faleceu quando eu tinha um ano de idade. Minha mãe ficou viúva e foi ela quem me orientou, porque ela achava que estudar era fundamental”.
Foi a mãe que o estimulou a fazer o ensino técnico em mecânica, e Izé recebia uma bolsa de estudos da Escola Técnica Federal de São Paulo. “Eu era de família muito pobre”, contou Izé. “Aliás, minha mãe que foi atrás dessas coisas para mim. Era muito inteligente, uma das mulheres mais inteligentes que conheci na vida”, completou.
No Instituto que ajudou a criar, o professor ocupou o cargo de diretor de 16 de maio de 1978 a 15 de maio de 1982. Durante homenagem que recebeu no ICMC, em evento realizado dia 29 de maio de 2014, Izé relembrou como foram os primeiros tempos de professor em São Carlos: “No início, eram apenas 13 professores para ministrar todas as aulas de matemática para os futuros engenheiros. As turmas chegavam a ter 180 alunos.”
No ano seguinte à morte do matemático italiano que convidou Izé a dar aulas na USP, aconteceu a inauguração oficial da biblioteca do ICMC que, merecidamente, recebeu o nome de Achille Bassi. Era 12 de setembro de 1974, e Izé proferiu um discurso para explicar o que uma biblioteca significa para um matemático: “O sonho de Bassi sempre foi criar um centro de matemática dirigido para a investigação e compreendia muito bem que é impossível a pesquisa séria em matemática sem a existência de uma biblioteca especializada. A biblioteca é para o matemático mais do que o laboratório para o físico, o químico, o biólogo. É lá que se encontram as grandes realizações do espírito humano, é lá que se encontram as ideias mais recentes, a inspiração para novas conquistas.”
Ao longo de toda a carreira, Izé orientou onze dissertações de mestrado e seis teses de doutorado. Depois que se aposentou do ICMC, em 1987, tornou-se professor na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde também se aposentou em 2002. Aos 90 anos, o professor faleceu dia 2 de abril de 2023, na cidade que o acolheu durante a maior parte de sua carreira.
Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Com informações de entrevista realizada com o professor Antonio Fernandes Izé em 2 de fevereiro de 2000 pela historiadora Leila Bussab
Mais informações
Acesse gratuitamente a obra Um instituto singular e plural – As cinco décadas do ICMC em livro-reportagem: https://doi.org/10.11606/9786586371420