Usando materiais didáticos multissensoriais, o professor Welber Duarte dos Santos implementou novas estratégias para o ensino de ciências a crianças com deficiência visual. Ele atua no atendimento educacional especializado oferecido para esse público em um centro de referência da Prefeitura Municipal de Várzea Grande, Mato Grosso. Welber teve contato com esses materiais quando cursava a Especialização em Computação Aplicada à Educação na USP.
“Para mim, a Especialização foi a porta de entrada para o mestrado e para uma vida que, talvez, eu não percebesse se tivesse ficado onde estava. Com certeza, mudou toda a minha trajetória”, relata o ex-aluno. Welber concluiu em 2020 a Especialização, oferecida na modalidade de educação a distância pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos. Durante o curso, conheceu a professora Ellen Francine, atual coordenadora da Especialização, e a tutora Camila Dias de Oliveira Sestito: “sem o apoio delas, talvez eu não tivesse coragem de ter tentado o mestrado.”
Quando ainda era aluno da USP, ele construiu o projeto de pesquisa para prosseguir na carreira acadêmica e obteve os conhecimentos básicos para desenvolvê-lo. Finalmente, em 2021, ingressou no Mestrado Profissional em Ensino na Temática da Deficiência Visual no Instituto Benjamin Constant (IBC), no Rio de Janeiro.
Welber explica que alguns dos principais programas computacionais para facilitar os estudos e as atividades diárias dos deficientes visuais são antigos ou muito caros: “Iniciativas que tornem isso mais acessível e atualizado são indispensáveis. Muitas pesquisas estão concentradas em locais como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ou o Instituto Benjamin Constant. Isso poderia surgir também em outros espaços”.
Segundo Welber, o papel da computação é crucial nesse processo. “A computação acaba se encaixando no conjunto das tecnologias assistivas quando falamos em deficiência visual. Nesse sentido, recursos como o DOSVOX, o NVDA e outros materiais utilizando placas como, por exemplo, o Arduino, apresentam às pessoas com deficiência visual um mundo multissensorial que, antes, era inacessível com os materiais estáticos, que não interagem com o aluno”.
Citados por Welber, o DOSVOX e o NDVA são softwares livres e de código aberto criados para aumentar a independência dos deficientes visuais no uso de computadores: o DOSVOX é um sistema que se comunica com o usuário por meio de síntese de voz; já o Non Visual Desktop Access (NVDA) é um leitor de telas para o sistema operacional Microsoft Windows. “Esses dois programas garantem a exploração de diferentes possibilidades em computadores, como o acesso a materiais didáticos, livros etc. É um mundo bastante amplo e, felizmente, está em constante ampliação”.
No Trabalho de Conclusão de Curso entregue ao final da pós-graduação na USP, Welber pesquisou Recursos Educacionais Abertos e elaborou recomendações de acessibilidade para pessoas com deficiência visual. O trabalho completo está disponível neste link: https://especializacao.icmc.usp.br/documentos/tcc/welber_santos.pdf.
Oportunidades ampliadas – Tal como as portas se abriram para Welber a partir da Especialização, algo similar ocorreu com Janaina Schlickmann Klettemberg. Ela se lembra exatamente onde estava quando recebeu a informação de que as inscrições no curso da USP estavam abertas: na sala de espera de um consultório médico, em Joinville, para agendar uma cirurgia.
Licenciada em pedagogia, naquele ano de 2018, Janaina era professora de educação básica em uma escola particular da cidade e vivia uma fase difícil: “Estava extremamente bloqueada, não aguentava mais a minha carreira, não queria mais aquilo, mas não sabia o que fazer. E quando comecei a Especialização, trouxe para mim um novo olhar: passei a saber que profissional eu queria ser”. Nasceu o desejo de ressignificar a prática pedagógica a partir da computação.
Como os professores das disciplinas da Especialização sempre estimulavam os pós-graduandos a colocarem a mão na massa, realizando exercícios e atividades práticas, Janaina, rotineiramente, levava novos materiais e ferramentas para seus alunos e às demais professoras da escola: “Você tem vontade de compartilhar, de aplicar, porque o próprio curso instiga isso, ensinando a fazer, a mudar. Você não consegue passar incólume pelas disciplinas”.
Um dos recursos que mais encantou Janaina foram as aplicações da realidade aumentada, tanto que, em seu Trabalho de Conclusão de Curso da USP, ela abordou as perspectivas mundiais do uso dessa tecnologia nos anos iniciais da educação básica. “Eu compreendo que esse é um fator muito determinante quando a gente fala de tecnologias educacionais: aprender a usá-las e ensinar os alunos a usá-las de forma consciente, de forma colaborativa”, reflete a ex-aluna.
Desde o ano passado, Janaina assumiu um novo desafio profissional e está trabalhando agora na Sincroniza, uma empresa que ajuda organizações na formação de equipes escolares para diversificação e ampliação de práticas pedagógicas. “Hoje, atuo como autora das trilhas formativas que compõem a política de formação de professores em competências digitais”, explica. “Uso o que eu aprendi na USP porque, de fato, de algum modo, a gente estudou sobre inteligência artificial, sobre gamificação, sobre realidade aumentada e virtual, e tudo isso permeia o discurso sobre competências digitais”, completa.
Foram muitas transformações na trajetória profissional de Janaina desde quando ela decidiu ingressar na Especialização. Além de mudar de emprego, hoje ela está prestes a terminar o mestrado em Tecnologias Educacionais em Rede na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), e, em breve, começará o doutorado.
Inscrições abertas – A Especialização em Computação Aplicada à Educação está com inscrições abertas para uma nova turma até dia 14 de maio. Para participar do processo seletivo, basta ter concluído uma graduação em qualquer área (não é necessário formação prévia em computação). O curso é pago, e são 480 horas de aprendizagem divididas em 11 disciplinas e quatro módulos, tudo oferecido a distância. As aulas no ambiente online começarão dia 29 de julho.
Para se inscrever, é só preencher o formulário online de inscrição disponível no site do curso, pagar a taxa de inscrição, que é de R$ 200,00 e enviar o comprovante por e-mail, conforme especificado no edital. Serão selecionados, no máximo, 300 candidatos de todo o Brasil. O processo seletivo consistirá na análise dos documentos enviados durante a inscrição e o resultado final será informado via e-mail.
Após a divulgação do resultado, o candidato aprovado deverá manifestar interesse na vaga e efetuar o pagamento da taxa de matrícula (R$ 500,00) em até sete dias. O valor da taxa é idêntico ao da mensalidade do curso, que totaliza 21 parcelas fixas de R$ 500,00. São oferecidos descontos na taxa de inscrição conforme critérios estabelecidos no edital.
Lançada pelo ICMC em julho de 2018, a Especialização já formou 252 alunos no total, sendo 139 na primeira turma, da qual fizeram parte Welber e Janaina. Para ela, o investimento vale a pena: “Você vai ter uma formação completa, uma formação que abrange todos os aspectos da sua vida. Terá a formação conceitualmente teórica, mas também vai ter instrumentos e condições para aplicar esses conhecimentos de forma prática e conseguirá levar isso para a sua vida e para a vida dos seus estudantes”.
Texto: Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do ICMC/USP
Mais informações
Site do curso: http://especializacao.icmc.usp.br
Link para se inscrever: https://especializacao.icmc.usp.br/inscreva.php
Link para o edital: https://icmc.usp.br/e/e8563
Confira mais depoimentos de ex-alunos nesta reportagem: Computação aplicada à educação na USP: curso prepara profissionais para os novos tempos
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