
A trajetória do robô das garotas chega ao fim depois de passar três vezes nas estradas das arenas, mas é muito provável que a jornada de Sarah e Valentine pela OBR esteja apenas começando. Os pais as inscreveram na etapa regional da OBR em São Carlos no nível zero, que é voltado a estudantes do 1º ao 3º ano do ensino fundamental e foi criado no ano passado para favorecer o contato, cada vez mais cedo, com o mundo da robótica. Nesse caso, não há pontuação e concorrência entre equipes, todos são premiados com broches e medalhas, pois a ideia é incentivar a participação na OBR nos próximos anos.
A proposta já está gerando bons resultados: a primeira equipe nível zero que participou de uma OBR no ano passado – formada por Caleb e João – voltou à competição este ano, dessa vez para competir no nível 1, que é voltado a alunos do 1º ao 8º ano do ensino fundamental. Tal como no ano passado, o técnico foi o pai deles, o desenvolvedor de software Jefferson Pereira Cezar, que inscreveu o time na categoria equipe de garagem, destinada à participação de grupos independentes, que não estão vinculados a uma escola.
(veja o depoimento dos dois na reportagem da EPTV: icmc.usp.br/e/9bd74)
Sentados em uma mesa no salão de eventos da USP, logo depois que o simpático robô que criaram participa da terceira rodada da OBR, explicam entusiasmados todos os componentes que usaram para construir Simprão, nome que deram ao robô porque ele é simples, mas nem tanto: resultado de um ano de muito trabalho e de aprimoramentos em versões desenvolvidas anteriormente. O que mais chama a atenção em Simprão é uma peça redonda: “Tentamos usar baterias menores, mas não davam conta. Então, compramos uma parafusadeira e retiramos a bateria de lítio de 12 volts para usar no robô”, explica José Renato. “Assim, depois a gente pode desmontar, colocar a bateria de volta na parafusadeira e usá-la normalmente”, completa Henrique.
Aliás, há um aspecto comum que permeia o relato de todas as crianças e jovens que participam da OBR: eles têm habilidades para explicar conceitos científicos de um jeito descomplicado, defendem seus pontos de vista com afinco e carregam nas expressões faciais e no olhar os sinais típicos de quem vibra e se empolga diante das descobertas e da superação de desafios. De fato, entre os maiores legados da OBR está esse potencial para despertar, nas crianças e jovens, o encanto pela busca do conhecimento, levando-os a se divertir nesse processo de uma maneira que jamais vão querer interrompê-lo. Professores, pais, parentes e voluntários que têm o prazer de acompanhar as crianças e jovens nessa jornada sabem o quanto ela é emocionante.
Equipe Mundos das Invenções e o robô Simprão
Adam diz que a realização da etapa regional da OBR em São Carlos contribuiu muito para o desenvolvimento de uma cultura ligada à robótica na cidade, a qual se espalhou por outros municípios do entorno. A competição se tornou, assim, uma indutora da cultura robótica nas escolas de ensino básico da região. A etapa regional é um evento em que assistimos aos benefícios que podem ser alcançados quando os conhecimentos gerados nas universidades públicas de uma cidade – nesse caso, na USP e na UFSCar – são compartilhados com as escolas públicas e particulares.
Tabela mostra o número de equipes inscritas na OBR desde 2014, quando aconteceu a primeira etapa regional da competição em São Carlos
Atuando como chefe da equipe de juízes da competição em São Carlos, Adam sentiu na pele essa transformação. “Eu tive que me qualificar para poder acompanhar o desenvolvimento das crianças. Em 2014, por exemplo, eu não tinha conhecimentos avançados sobre o kit Arduino. Ao longo dos anos, muitas equipes passaram a usar esse kit e eu precisei estudar mais”, diz o pós-graduando, que está prestes a concluir o doutorado no ICMC. Para poder solucionar todas as dúvidas dos times durante a competição, ele precisou fazer várias reuniões preparatórias com a equipe de juízes, já que, agora, qualquer equívoco no registro dos pontos é questionado, pois muitas crianças leem o manual de regras e instruções da OBR e o carregam debaixo do braço para a arena.
Aprendendo novas estratégias – Repleto de post-its coloridos e frases destacadas com canetas marca-texto fluorescentes amarelas, verdes, laranjas, rosas e azuis, o manual de regras e instruções que Sara Casatti levou à etapa regional da competição em São Carlos é um exemplo do quanto as crianças se esforçam para obter bons resultados. Segundo ela, a conquista do primeiro lugar no nível 1 da competição no domingo, dia 16 de junho, só foi possível por causa da estratégia adotada pela equipe. “Um robô nunca é perfeito. Então, você precisa conhecer no que ele é bom e no que ele é ruim. Assim, você pode pensar nos locais mais estratégicos para colocar os marcadores ao longo da pista”, ensina.
Fiquei pensando em quanto a estratégia usada pela equipe de Sara estava relacionada com os mecanismos que usamos para ensinar nossos filhos. Eles também não são perfeitos, têm habilidades e limitações como qualquer outro ser humano. Se a gente os estimula a enfrentar novos desafios, eles podem seguir adiante na vida e ganhar muitos novos conhecimentos. Mas não adianta insistir para que ultrapassem obstáculos maiores do que aqueles que são capazes de superar. Se notarmos um grau elevado de dificuldade, podemos pegá-los nas mãos e levá-los até a próxima fase da jornada. De lá, eles prosseguirão pela estrada da vida e vão enfrentar novos desafios. Conhecendo-os bem, seremos capazes de dar as mãos a eles, caso precisem de um apoio para seguir adiante. Está aqui mais um exemplo do quanto a robótica pode despertar em nós novos conhecimentos: ser uma melhor educadora é só um deles.
Este ano, as escolas públicas que tiveram times melhor classificados no nível 1 e 2 da etapa regional da OBR em São Carlos ganharam kits robóticos Arduino, que foram doados pelo Centro de Ciências Matemáticas Aplicadas à Indústria e pela EPTV. A escola estadual Antonio Militão de Lima foi uma das contempladas, já que uma das equipes treinadas pela professora Eliane Botta conquistou o oitavo lugar no nível 1 e se classificou para a etapa estadual da competição, que ocorrerá dia 31 de agosto no Centro Universitário da FEI, em São Bernardo do Campo. Os alunos de Eliane Botta participam do evento desde 2014, ano em que um dos times da escola chegou à final nacional da OBR (leia mais).
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